Júlia da Rocha Fernandes de Sousa, conhecida por “Júlia Côta”, nasceu na freguesia de Galegos Santa Maria, no concelho de Barcelos, a 26 de Dezembro de 1935.
O gosto pela arte popular advém do facto de ter nascido no seio de uma das famílias mais conhecidas do artesanato local, e de uma vocação nata para o desenho da arte popular. O seu pai, Eduardo de Fernandes de Sousa (o “Percina”), foi um conceituado louceiro, enquanto que a sua Mãe, Rosa Faria da Rocha (“Rosa Côta”), foi uma das mais importantes artesãs nacionais e uma das artistas que mais enobreceu a arte do figurado barcelense. O seu avô paterno foi também um conceituado artesão, ao qual muitos atribuem a elaboração do primeiro exemplar do famoso galo de Barcelos. O apelido “Côta”, que Júlia ostenta tal como os seus pais, advém do facto de o seu pai ter comprado uma casa a uma “mulherzinha côta de um dedo”. Ficou, desde aí, conhecida pela casa dos “Cotos”.
Este apelido, em virtude da arte da família, imortalizou-se ao longo dos tempos, de geração em geração, e apresenta-se actualmente como um dos nomes consagrados desta região, tendo nesta artesã um epicentro dessa notoriedade secular. Nascida no seio de uma família de mestres artesãos e crescida por entre peças do figurado da sua Mãe, Júlia Côta abraçou desde tenra idade a arte de trabalhar o barro, começando por moldar pequenos acrescentos, tais como sapatos ou outros acessórios, para as peças criadas pela sua mãe. Dedicou muito do seu tempo à pintura de figuras, tendo ainda embelezado louça para uma fábrica. Quando esta escasseava, Júlia trabalhava novamente as figuras moldadas pela mãe, acrescentando-lhe membros, instrumentos musicais e outros acessórios.
Contudo, desde muito cedo começou a desenvolver um estilo de figurado muito próprio que corporiza o seu “mundo fantástico, colorido e alegre”, traços que também caracterizam a sua personalidade aberta e autêntica. A imaginação “fantástica” desta artesã leva-a a criar figuras com um cariz identitário e uma expressividade que captam a atenção pela sua autenticidade, jogo de cores e vivacidade. As suas bonecas são disso o melhor exemplo e ilustram bem a dimensão da criatividade e imaginação desta artesã única. Os Diabos são, igualmente, uma forma de a artista mostrar a sua capacidade de abstrair e idealizar figuras fantásticas e celestiais. A sua obra, no entanto, contempla outros elementos, não se cingindo a estas criações e alargando-se ao “desenho de figuras em barro” que ilustram o quotidiano do mundo rural, onde sempre viveu, com destaque para as famosas juntas e carros de bois e para os elementos de identidade etno-cultural local como os coretos, os santos, a religião, os músicos e os galos. De notar que os galos de Júlia “Côta” são ímpares na forma, na cor e nos motivos, à imagem da linha traçada pelo seu avô. Todas as peças denotam, assim, o inconfundível toque de mestria desta notável artesã barcelense.
A sua vida e obra(s) são um verdadeiro hino à arte popular, ao artesanato e ao figurado de Barcelos.
